domingo, 12 de setembro de 2010

O JOGO E A TÉCNICA, CAMINHOS DA EDUCAÇÃO

      O trabalho tem por objetivo alcançar o êxito (resultado), da maneira (técnica) mais breve, menos dispendiosa e mais rentável possível. O jogo, embora tendo um objetivo a alcançar, parece desenvolver-se com propósitos totalmente diferentes: descobrir novas estratégias, obedecendo determinadas regras. Só os estímulos que correspondem às nossas necessidades e capacidades nos atingem. A mente humana não consegue reter e elimina toda informação ou idéia que não cria vínculos com outras pré-existentes. A técnica de educar a criança é criar situações em que o organismo seja "forçado" a adaptar-se, já que tende ao equilíbrio físico e social. Por quê muitos indivíduos não gostam de jogar? Porque o jogo exige permanente readaptação diante de situações sempre novas. A competição foi o mecanismo inventado pelo homem para fazer o jogo permanecer como jogo. Se a competição se faz sem regras, o confronto deixa de ser um jogo para ser "agressão", ou tentativa de destruição do competidor. Qual o papel do competidor? Precisamente, evitar que a ação do adversário resvale para uma técnica, isto é, para comportamento previsível, estereotipado, padronizado, automático. Deste modo, a atividade permanece essencialmente criativa. A caça pela sobrevivência já foi uma atividade extremamente lúdica nos seus primórdios, demonstrando também que o jogo e suas estratégias fazem parte da própria natureza humana. Explorar as possibilidades estratégicas de uma estrutura de comportamento é precisamente, desenvolver a inteligência. O jogo é portanto, o grande instrumento de desenvolvimento da inteligência, donde se conclui que o trabalho (técnica) é, precisamente, o contrário. Na medida em que o trabalho, dentro de uma empresa, sobe de escalão, aumenta seu conteúdo lúdico. As reuniões para tomada de decisão, exigindo a exploração de alternativas, têm mais de lúdico do que de prático, no momento em que ocorrem. Na juventude, só há uma força que os adolescentes respeitam: seu grupo. Os adolescentes delinqüentes não vivem em grupo, mas em bandos dominados por um caudilho. Infelizmente, o homem pode fixar reflexos condicionados. O homem pode virar máquina. Para ensinar a trabalhar basta fixar reflexos, enquanto ensinar a pensar é um desafio. Conservar a flexibilidade mental é, precisamente, a condição de fazer combinações, isto é, de ser inteligente. Ser inteligente dá muito trabalho. Os animais, quase sempre, têm um instinto para cada necessidade específica do organismo. O homem não foi feito assim; diante de cada necessidade, tem que inventar a solução, se já não possui um hábito. O indivíduo que tem medo da inteligência, o que desejaria ser de fato, era um animal qualquer. Ao que parece, quando a busca do êxito transforma-se em busca da verdade, da beleza e do bem, aumenta a ludicidade e diminui a tecnicidade, por onde se pode ver que brincar é a verdadeira finalidade da vida do homem. Há, pois, duas maneiras de educar: 1. Educar pela técnica (transmitir automatismos, hábitos motores, verbais e mentais) e 2. Educar pela inteligência (provocar permanente busca de novas soluções, estimular as diversões estratégicas, criar situações que exijam a exploração ao máximo das possibilidades procedurais da estrutura de comportamento). Como se vê, educar pela inteligência é educar pelo jogo. Obviamente, o jogo por si mesmo não é suficiente sem a figura do professor consciente. É muito comum encontrarmos atletas de altíssimo nível técnico motor fracassarem em suas equipes e até em suas vidas, pois desenvolvem estratégias rudimentares ou simplesmente não têm capacidade de criá-las. A educação pela inteligência propõe que o próprio educando construa suas estratégias motoras, verbais e mentais. "Um dia, provavelmente, o conceito de educação estará estritamente ligado ao de jogo" (Jean Piaget).

 
Bibliografia

1. Educação - Ajudar a Pensar, Sim. Conscientizar, Não. Dom Lourenço de Almeida Prado OSB - Agir – 1991

2. Piaget para Principiantes. Lauro de Oliveira Lima - Summus Editorial – 1980

3. Piaget ao Alcance dos Professores.C.M. Charles - Fearon Publishing Inc. – 1974

4. Values of The Game. Bill Bradley - Broadway Books - 1998

Adaptação do Texto de Rogério Werneck 2004

Nenhum comentário: