quinta-feira, 2 de setembro de 2010

FICHA ANTROPOMÉTRICA NA ESCOLA

É um material que pode ser usado por professores que tenham alunos com idade a partir de 2 anos.
Divirta-se!

Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano ISSN 1980-0037


Rev. Bras.Cineantropom. Desempenho Hum. 2007;9(1):107-114

FICHA ANTROPOMÉTRICA NA ESCOLA:

O QUE MEDIR E PARA QUE MEDIR?

A SCHOOL ANTHROPOMETRIC RECORD CARD: WHAT SHOULD BE

MEASURED AND WHY MEASURE IT?

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo propor um modelo de Ficha Antropométrica Escolar (FAE), fundamentado nos

critérios e protocolos utilizados pela antropometria. Este modelo buscou responder a questionamentos como: o que e para que

medir, visando contribuir para a efetivação de uma proposta coerente com as tendências atuais, que visam à educação para a

adoção de um estilo de vida saudável. Para a construção deste modelo observou-se o contexto educacional brasileiro, a fi m de

apresentar alternativas de ampliação e inserção dentro de uma perspectiva interdisciplinar. A implantação de uma sistemática de

avaliação antropométrica na escola é de fundamental importância, pois possibilita o acompanhamento do crescimento e a detecção

de fatores de risco para o desenvolvimento de doenças, que tem início em idades cada vez mais precoces. Deste modo, foram

abordados tópicos referentes a medidas antropométricas no âmbito escolar; a fundamentação e a proposição de um modelo de

FAE; os procedimentos de medidas, interpretações e recomendações. A FAE é destinada aos professores de Educação Física e

demais profi ssionais da saúde, pesquisadores e a todos os educadores interessados na promoção de um estilo de vida saudável,

com ênfase nos aspectos de crescimento e fatores de risco às doenças relacionadas, principalmente, ao excesso de peso e

transtornos alimentares. Acredita-se que o apoio pedagógico das instituições de ensino são fatores determinantes para o sucesso

na implantação da FAE, como parte integrante do projeto político pedagógico das escolas.

Palavras-chave: Antropometria; Criança; Educação; Ficha antropométrica.

ABSTRACT

The objective of this study is to propose a model for a School Anthropometric Record Card (SARD), based on the

criteria and protocols used in anthropometry. This model aims to answer questions such as: what to measure and why measure,

aiming to contribute to the implementation of a proposal that would be coherent with current tendencies, which aim at educating

students to adopt a healthy lifestyle. In order to construct this model, note was taken of the Brazilian educational context, in order

to offer alternatives for expansion and inclusion within a multidisciplinary perspective. The implementation in schools of a system

for anthropometric assessment is of fundamental importance since it would allow for growth to be monitored and risk factors for

the detection of the development of diseases, which have onset at ever younger ages. Therefore, topics were discussed relating

to anthropometric measurements in a school environment and the proposal of a SARD model, in addition to the procedures for

measurement, interpretation and recommendation. The SARD is aimed at Physical Education teachers and other health professionals,

researchers and all educators with an interest in promoting a healthy lifestyle, with emphasis on features of growth and on risk factors

for diseases, particularly those related to overweight and eating disorders. It is believed that the support of educational institutions

is a determinant factor for the success of implementing a SARD as an integral part of schools’ educational policy projects.

Key words: Anthropometry; Child; Education; Anthropometric record card.

1 NUPAF – Núcleo de Pesquisa em Atividade Física e Saúde – UFSC

2 Professor Auxiliar da Universidade do Estado da Bahia – Campus XII

3 Núcleo de Pesquisa em Cineantropometria e Desempenho Humano – NuCIDH/UFSC

Carmem Cristina Beck1

Ilca Maria Saldanha Diniz1

Marcius de Almeida Gomes2

Édio Luiz Petroski3

Ponto de vista

108 Beck et al.

Rev. Bras.Cineantropom. Desempenho Hum. 2007;9(1):107-114

INTRODUÇÃO

Definida como a técnica para expressar

quantitativamente a forma do corpo, a antropometria

é a atividade ou prática científica relativa à observação,

quantificação e análise do crescimento somático

humano, sendo um dos fundamentos para construção

de uma normatividade das práticas de saúde, seja

clínica ou epidemiológica, individual ou coletiva1.

Diversas pesquisas2-6 têm relatado as contribuições

da antropometria para o crescimento e desenvolvimento

humano, seja na identificação dos fatores de

risco relacionados às doenças, como na avaliação dos

aspectos maturacionais e nutricionais.

Sugerir um modelo de ficha antropométrica para

a escola que responda a questionamentos como: o que

medir e para que medir é de fundamental importância na

construção de metodologias adequadas a este contexto,

contribuindo para a efetivação de uma proposta educativa

institucional coerente com as tendências atuais.

No entanto, existem limitações na utilização da

antropometria no âmbito escolar, devido principalmente

à falta de uma proposta que consiga assegurar e

ampliar o papel da mesma para a Educação Física e

seus conteúdos.

Deste modo, abordaram-se aspectos práticos,

fundamentados nos critérios e protocolos da

antropometria, que buscam indicar caminhos para

superação destas limitações de forma simples e

concisa.

MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS NO ÂMBITO

ESCOLAR

A realização de medidas antropométricas no

âmbito escolar tem se tornado uma prática constante

de estudiosos em todo Brasil. E, apesar da escola

apresentar características apropriadas para realização

de pesquisas com crianças e adolescentes esta prática

acontece de forma dissociada à realidade da educação

física escolar, dificultando uma utilização que dê

sentido a mensuração.

A escola, como campo de pesquisa, tem

possibilitado ampliar as descobertas sobre as

conseqüências provocadas pela mudança do estilo de

vida nas gerações a cada década. Observa-se também,

que a utilização da antropometria na escola, colabora

para a compreensão das mudanças ocorridas no

crescimento e no desenvolvimento humano, bem como

possibilita a detecção de possíveis anormalidades e/ou

enfermidades7.

Segundo a OMS8 os níveis de crescimento físico

entre crianças e adolescentes podem ser considerados

internacionalmente como um dos mais importantes

indicadores, tanto da qualidade de vida de um país,

quanto da extensão de distorções existentes em uma

mesma população, em seus diferentes subgrupos.

Waltrick9 reforça que atualmente não se admite

uma boa assistência à criança sem o controle do seu

crescimento. Enquanto, Bray & Bouchard10 destacam

que a principal motivação para o estudo da composição

corporal em crianças e adolescentes reside no

especial interesse em se obter informações quanto

ao fracionamento do peso corporal em seus diversos

componentes, tendo em vista a estreita relação

existente entre a quantidade e a distribuição da gordura

e alguns indicadores de saúde.

Nota-se então, que o uso da antropometria na

escola está aliado à teoria da atividade física relacionada

à saúde, que apresenta algumas divergências no

campo profissional, por entender que esta concepção

delimita a exploração de outras abordagens, como as

questões sociais e culturais.

No entanto, a utilização da FAE como instrumento

pedagógico na educação física escolar amplia a

possibilidade de discussão dos diversos contextos

(sociais, culturais e biológicos), contribuindo para

uma efetiva intervenção. Pois, somente mensurando e

registrando que se é capaz de detectar em que direção

à saúde dos escolares está caminhando.

PROPOSIÇÃO DE UM MODELO DE FAE

A própria Organização Mundial da Saúde

(OMS)11 preconiza que estudos envolvendo crianças e

adolescentes utilizem avaliações antropométricas para

verificar o estado nutricional, bem como para realizar

o controle e monitoramento do seu crescimento,

possibilitando assim, a detecção precoce de disfunções

orgânicas, fatores de risco para doenças crônicas,

estados de subnutrição ou de obesidade.

A Educação Física tem passado por muitas

transformações nos últimos anos, deixando de enfatizar

apenas o desenvolvimento da aptidão física relacionada

ao desempenho para incluir a aptidão física relacionada

à saúde. Observa-se que a Educação Física escolar,

embasada nesta necessidade emergente, está inserindo

gradativamente, conteúdos pedagógicos relacionados à

atividade física para a promoção da saúde.

Ao se implementar uma proposta de educação

física escolar que possibilite o desenvolvimento de um

estilo de vida saudável, faz-se necessário identificar os

comportamentos de risco e assim, estimular e conduzir

a alteração de hábitos negativos durante a infância e

a adolescência. Neste contexto, a antropometria pode

servir como uma valiosa ferramenta na prática do

professor de educação física, provocando mudanças

de comportamento e proporcionando a aquisição de

hábitos positivos à saúde de seus alunos.

Deste modo, para elaboração e recomendação da

FAE realizou-se uma análise exploratória, no Colégio de

Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina,

onde se observou uma evolução histórica da avaliação

antropométrica de 1971 a 2005. No período de 1971 a

1978 as medidas coletadas na ficha antropométrica eram

sugeridas e acompanhadas pelo Ministério da Educação

e Cultura do Brasil e a partir da década de 90 ocorreu a

informatização da ficha antropométrica na escola.

Observam-se, aqui no Brasil, algumas limitações

na interpretação de dados antropométricos em escolares

brasileiros, diante da ausência de referências nacionais

Ficha antropométrica na escola: o que medir e para que medir? 109

para classificação. No entanto, a ausência de tabelas

interpretativas nacionais não deve se transformar

em barreiras que impossibilitem a viabilização desta

proposta. Detectar os possíveis problemas de saúde

o mais precocemente possível e sugerir ações que

possam auxiliar na promoção do bem-estar da criança,

do adolescente e do jovem justificam a inclusão de

avaliações antropométricas desde cedo nas escolas,

academias, clubes, clínicas e hospitais12.

Existem algumas dificuldades em sistematizar

um modelo de ficha antropométrica que contemple

as diversidades regionais, econômicas, culturais e

sociais em um país com dimensões continentais.

No entanto, observando as propostas existentes e

prevendo uma flexibilização, quando necessário, é

possível elaborar um modelo plausível, válido, de baixo

custo e de fácil utilização, que permita aos professores

da Educação Física escolar acompanhar aspectos

de crescimento, desenvolvimento e implantação de

hábitos saudáveis.

A utilização da antropometria na escola é

justificada pelos seguintes aspectos:

1. Permite identificar riscos à saúde associados

à índices excessivamente altos ou baixos de gordura

corporal;

2. Proporciona o monitoramento de mudanças na

composição corporal, associadas aos processos de

crescimento, desenvolvimento, maturação e idade;

3. Propicia o acompanhamento das variáveis

relacionadas ao crescimento e desenvolvimento físico

em relação à idade cronológica e maturacional;

4. Possibilita a identificação de disfunções no

crescimento ou de perfil morfológico de risco13.

Apesar das justificativas serem fundamentadas

nas ciências da saúde não se deve pensar no emprego

da FAE apenas sob o aspecto biológico, pois a

utilização da antropometria na escola apresenta a

possibilidade de discussão do cotidiano, abordando

temáticas atuais dos problemas de saúde (desnutrição,

obesidade, crescimento, estilo de vida, dentre outros),

relacionados às diferenças sócio-culturais e ampliando o

conhecimento dentro de uma proposta interdisciplinar.

Referindo-se ao excesso de peso, estudos

epidemiológicos14,15 mostram que a obesidade, na

infância e na adolescência, pode ser considerada

uma doença grave que não apenas predispõe a

obesidade do adulto, como também traz consigo suas

conseqüências.

Os riscos relacionados à obesidade dependem

não somente da presença de tecido adiposo, mais

também de sua distribuição, em particular a abdominal14.

Assim, circunferência abdominal aumentada também

traz complicações freqüentes em pessoas obesas. A

adiposidade abdominal está associada ao aumento

de doenças metabólicas, de hipertensão arterial e de

risco cardiovascular.

No entanto, para a utilização da antropometria

em ambientes escolares, os profissionais de educação

física devem assegurar confidencialidade, discutindo

os resultados individuais apenas com a criança e/ou

adolescente e seus pais. Os resultados e interpretações

do grupo poderão ser abordados durante as aulas

de forma generalizada, proporcionando reflexões e

direcionando a prática docente.

O modelo apresentado neste trabalho (Quadro 1)

sugere os seguintes componentes:

• Identificação: com dados pessoais do aluno

(nome, sexo, idade, data nascimento e filiação) e

referências da escola (instituição de ensino);

• Dados antropométricas: com medidas de massa

corporal (peso), estatura (altura), circunferência de cintura

(CC), dobras cutâneas (tríceps e subescapular);

• Resultados: com o cálculo do Índice de Massa

Corporal (IMC= Peso (kg) /Altura em metros ao

quadrado), percentual de gordura (somatório das

dobras cutâneas tríceps e subescapular), percentual de

massa magra e massa magra em quilogramas; e

• Observações e Recomendações.

PROCEDIMENTOS DE MEDIDAS

A seguir serão apresentados os procedimentos,

protocolos e recomendações, para o preenchimento

das medidas antropométricos da FAE como forma de

uniformizar as coletas dos dados.

Massa Corporal

Também conhecida como peso corporal, é uma

medida antropométrica que expressa a dimensão da

massa ou volume corporal.

Procedimento: o avaliador posiciona-se em

pé de frente para escala de medida; o avaliado em

pé (posição ortostática), deve subir na plataforma,

cuidadosamente, colocando um pé de cada vez

e posicionando-se no centro da mesma, ombros

descontraídos e braços soltos lateralmente16.

Material utilizado: balança com precisão de 100

gramas ou menor.

Propósito: a medida de peso pode ser utilizada

para acompanhar o processo de crescimento do

aluno, servindo como um bom indicador nutricional,

relacionando com a idade, sexo e estatura.

Estatura

Também conhecida como altura, é um indicador

do desenvolvimento corporal e comprimento ósseo.

Procedimento: O avaliador posiciona-se em pé

ao lado direito do avaliado, se necessário subir num

banco para realizar a medida; o avaliado em posição

ortotástica, pés descalços e unidos, procurando por

em contato com instrumento de medida as superfícies

posteriores do calcanhar, cintura pélvica, cintura

escapular e região occipital, com a cabeça orientada no

plano de Frankfurt. O cursor ou esquadro, num ângulo

de 90º em relação à escala, toca o ponto mais alto da

cabeça no final de uma inspiração, onde se realiza a

leitura em metros16.

Material utilizado: estadiômetro ou fita métrica

afixada a uma parede plana sem rodapé e esquadro.

Propósito: considerado como o maior indicador

110 Beck et al.

Rev. Bras.Cineantropom. Desempenho Hum. 2007;9(1):107-114

do desenvolvimento corporal e comprimento ósseo.

Importante na verificação de doenças, estado

nutricional e na seleção de atletas.

Circunferência de Cintura (CC)

Representa uma medida da distribuição de

gordura na região central do corpo.

Procedimento: O avaliador posiciona-se de frente

para o avaliado (posição ortostática), passa-se a fita

métrica em torno do avaliado, tendo-se o cuidado de

manter a mesma no plano horizontal. A medida é na

parte mais estreita do tronco, no nível da cintura “natural”.

A leitura é realizada após uma expiração normal17.

Material utilizado: fita métrica flexível ou trena.

Propósito: valores elevados desta variável estão

fortemente associados a inúmeras doenças (diabetes,

doenças cardiovasculares, etc.), e ao aumento da

morbidade e mortalidade da população.

Dobras Cutâneas (DC)

As dobras cutâneas ou pregas cutâneas, como

também são conhecidas, medem indiretamente a

espessura do tecido adiposo subcutâneo.

Procedimento:

1- DC Tríceps: a partir da referência anatômica

traça-se uma linha horizontal e imaginária até a

face posterior do braço (tríceps), onde marca-se o

ponto. Deve-se pinçar a dobra verticalmente ao eixo

longitudinal. Esta dobra deve ser destaca com o polegar

esquerdo e com o dedo indicador na linha marcada. O

avaliador se posiciona atrás do avaliado, enquanto o

avaliado encontra-se na posição ortostática17.

2- DC Subescapular : dobra é pinçada

obliquamente ou diagonalmente a partir da referência

anatômica (dois centímetros abaixo do ângulo inferior

da escápula), seguindo a orientação dos arcos

costais. A posição do avaliador e do avaliado idem ao

procedimento anterior17.

INTERPRETAÇÃO E RECOMENDAÇÃO DA FAE

Depois de realizadas as medidas sugeridas pela

Ficha Antropométrica Escolar (FAE) (quadro 1), devese

identificar as variáveis da composição corporal para

interpretação dos resultados e recomendações.

O crescimento físico (peso e altura), o índice de

massa corporal, o percentual de gordura e de massa

magra e a circunferência de cintura são as variáveis

descritas neste protocolo. Depois de realizadas as

medidas e os cálculos sugere-se que sejam analisadas

conforme critérios de classificação utilizados para

crianças e adolescentes.

Dentre as várias propostas de interpretação dos

resultados antropométricos para escolares, sugere-

Quadro 1: Ficha Antropométrica Escolar (FAE)

Quadro 1. Ficha Antropométrica Escolar (FAE)

FICHA ANTROPOMÉTRICA

ESCOLA:

NOME: DATA DE NASCIMENTO [ ] SEXO [M] [F]

dia/mês/ano

FILIAÇÃO:

I II III IV V VI VII

SERIE



Medida - dia/mês/ano

12/12/2005

Massa corporal (Kg)

50

Estatura (cm)

148

Perímetro cintura (cm)

50

DC TR (mm)

15

DC SE (mm)

26

DC PM (mm)

20

IMC

22,83

DC TR +SE

41

% DE GORDURA

33%

% MCM

67%

AVALIADOR

Prof. Ana

OBSERVAÇÕES:

RECOMENDAÇÕES:

ANTROPOMETRIA

AVALIAÇÕES

RESULTADOS

Ficha antropométrica na escola: o que medir e para que medir? 111

se para este modelo de FAE os seguintes critérios de

análise:

• Acompanhar o crescimento físico por meio das

curvas percentílicas19 igualmente recomendadas pelo

Ministério da Saúde do Brasil20;

• Para o IMC, os pontos de corte sugeridos por Cole et

al.21 (Quadro 2) ou Conde e Monteiro22 (Quadro 3);

• Para o percentual de gordura referências de Lohman23,24

(Figura 1);

• Para a circunferência de cintura os pontos de corte em

percentis segundo Fernandéz et al.25 (Quadro 4 e 5)

A seguir será apresentado um passo a passo para

interpretação do procedimento após a mensuração dos

dados propostos pela FAE, para tanto, será utilizado

um exemplo demonstrativo:

Exemplo: Escolar (adolescente), 11 anos, sexo

feminino.

Passo 1 - Após a verificação das medidas de

massa corporal e estatura, comparam-se com as

curvas de crescimento propostas pelo CDC/NCHS

considerando-se o sexo. Os gráficos de massa corporal

e estatura encontram-se disponíveis no “site” abaixo:

http://www.cdc.gov/nchs/data/series/sr_11/sr11_246.pdf

• Meninos 2 a 20 anos: massa corporal (p. 27), estatura

(p. 29);

• Meninas 2 a 20 anos: massa corporal (p. 28), estatura

(p. 30).

Traça-se uma linha horizontal identificando a

massa corporal e uma linha vertical a idade. Para a

estatura, traça-se, igualmente, uma linha horizontal

(estatura) e uma vertical (idade), onde as interseções das

linhas corresponderão ao valor do percentil da massa

corporal e da estatura do escolar, respectivamente.

Quadro 2. Pontos de Corte de IMC sugeridos para

sobrepeso e obesidade. Cole et al. (2000)

Idade

(anos)

SOBREPESO OBESIDADE

Masculino Feminino Masculino Feminino

2 18,41 18,02 20,09 19,81

2,5 18,13 17,76 19,80 19,55

3 17,89 17,56 19,57 19,36

3,5 17,69 17,40 19,39 19,23

4 17,55 17,28 19,29 19,15

4,5 17,47 17,19 19,26 19,12

5 17,42 17,15 19,30 19,17

5,5 17,45 17,20 19,47 19,34

6 17,55 17,34 19,78 19,65

6,5 17,71 17,53 20,23 20,08

7 17,92 17,75 20,63 20,51

7,5 18,16 18,03 21,09 21,01

8 18,44 18,35 21,60 21,57

8,5 18,76 18,69 22,17 22,18

9 19,10 19,07 22,77 22,81

9,5 19,46 19,45 23,39 23,46

10 19,84 19,86 24,00 24,11

10,5 20,20 20,29 24,57 24,77

11 20,55 20,74 25,10 25,42

11,5 20,89 21,20 25,58 26,05

12 21,22 21,68 26,02 26,67

12,5 21,56 22,14 26,43 27,24

13 21,91 22,58 26,84 27,76

13,5 22,27 22,98 27,25 28,20

14 22,62 23,34 27,63 28,57

14,5 22,96 23,66 27,96 28,87

15 23,29 23,94 28,30 29,11

15,5 23,60 24,17 28,60 29,29

16 23,90 24,37 28,88 29,43

16,5 24,19 24,54 29,14 29,56

17 24,46 24,70 29,41 29,69

17,5 24,73 24,85 29,70 29,84

18 25 25 30 30

Quadro 3. Pontos de corte para IMC para baixo peso,

excesso de peso e obesidade. Conde e Monteiro (2006)

Idade

meses

Masculino Feminino

BP EP OB BP EP OB

24,0 13,77 19,17 21,98 13,95 18,47 20,51

24,5 13,77 19,13 21,94 13,94 18,43 20,47

30,5 13,76 18,76 21,53 13,87 18,03 20,00

36,5 13,70 18,45 21,21 13,76 17,70 19,64

42,5 13,61 18,20 20,98 13,66 17,44 19,38

48,5 13,50 18,00 20,85 13,55 17,26 19,22

54,5 13,39 17,86 20,81 13,46 17,14 19,15

60,5 13,28 17,77 20,85 13,37 17,07 19,16

66,5 13,18 17,73 20,98 13,28 17,05 19,23

72,5 13,09 17,73 21,19 13,21 17,07 19,37

78,5 13,02 17,78 21,48 13,15 17,12 19,56

84,5 12,96 17,87 21,83 13,10 17,20 19,81

90,5 12,93 17,99 22,23 13,07 17,33 20,10

96,5 12,91 18,16 22,69 13,07 17,49 20,44

102,5 12,92 18,35 23,17 13,09 17,70 20,84

108,5 12,95 18,57 23,67 13,16 17,96 21,28

114,5 13,01 18,82 24,17 13,26 18,27 21,78

120,5 13,09 19,09 24,67 13,40 18,63 22,32

126,5 13,19 19,38 25,14 13,58 19,04 22,91

132,5 13,32 19,68 25,58 13,81 19,51 23,54

138,5 13,46 20,00 25,99 14,07 20,01 24,21

144,5 13,63 20,32 26,36 14,37 20,55 24,89

150,5 13,82 20,65 26,69 14,69 21,12 25,57

156,5 14,02 20,99 26,99 15,03 21,69 26,25

162,5 14,25 21,33 27,26 15,37 22,25 26,89

168,5 14,49 21,66 27,51 15,72 22,79 27,50

174,5 14,72 22,00 27,74 16,05 23,28 28,04

180,5 15,01 22,33 27,95 16,35 23,73 28,51

186,5 15,29 22,65 28,15 16,63 24,11 28,90

192,5 15,58 22,96 28,34 16,87 24,41 29,20

198,5 15,86 23,27 28,52 17,06 24,65 29,42

204,5 16,15 23,56 28,71 17,22 24,81 29,56

210,5 16,43 23,84 28,89 17,33 24,90 29,63

216,5 16,70 24,11 29,08 17,40 24,95 29,67

222,5 16,95 24,36 29,28 17,45 24,96 29,70

228,5 17,18 24,59 29,50 17,47 24,96 29,74

234,5 17,37 24,81 29,75 17,49 24,97 29,83

240,0 17,50 25,00 30,00 17,50 25,00 30,00

* BP- Baixo peso, EP- Excesso de peso, OB- Obesidade.

112 Beck et al.

Rev. Bras.Cineantropom. Desempenho Hum. 2007;9(1):107-114

Passo 2 - Cálculo do IMC.

IMC (kg/m2) = Massa corporal

Estatura2

IMC (kg/m2) = 50 = 50 = 22,83 kg/m2

(1,48)2 2,19

Passo 3 – Após o cálculo do IMC (passo 2)

interpretar o valor no quadro 2 ou quadro 3. O quadro

2 sugere a classificação do IMC para sobrepeso e

obesidade, segundo idade e sexo, conforme Cole et

al.21 e, o quadro 3 apresenta uma referência brasileira

de IMC segundo Conde e Monteiro22.

Sugere-se a opção por um dos quadros abaixo,

tanto para interpretação quanto para o acompanhamento

das crianças e adolescentes.

IMC= 22,83 kg/m² Sobrepeso (classificação

conforme Cole et al.21)

IMC= 22,83 kg/m² Excesso de peso

(classificação conforme Conde e Monteiro22).

Passo 4 – Soma das dobras cutâneas tricipital

e subescapular

Σ2DC= DCTR + DCSE Σ2DC= 15 + 26 = 41

Por meio do somatório de DC, na figura 2, podese

constatar que esta adolescente encontra-se na faixa

considerada alta.

Passo 5 - Identificação do percentual de gordura.

Observando-se na figura 2, o %G aproximado desta

estudante é de 33,5%, considerado igualmente alto.

Peso de gordura = peso total x % de gordura

50 x 33,5% = 16,75kg

Passo 6 – Representação da Massa Corporal

Magra em percentual (%MCM) e quilogramas (kg).

%MCM= 100% - %G

%MCM= 100% - 33,5% % MCM= 67%

Peso de MCM= peso total - % gordura em kg

50 -16,75= 33,75kg

Passo 7 – Após a realização da medida da

circunferência de cintura (CC), interpreta-se o

resultado observando-se a idade e sexo do escolar,

considerando-se como risco elevado o valor da CC no

percentil maior ou igual a P9025.

Passo 8 - Encaminhamento da FAE: sugere-se que

a FAE fique arquivada em local apropriado e disponível

aos professores de outras disciplinas, permitindo o

desenvolvimento de abordagens interdisciplinares.

Figura 01: Percentual de gordura para meninos e

meninas segundo Lohman 23,24.

Quadro 4. Valores normativos para circunferência de

cintura (meninos).

Idade

(anos) P10 P25 P50 P75 P90

2 43,2 45,0 47,1 48,8 50,8

3 44,9 46,9 49,1 51,3 54,2

4 46,6 48,7 51,1 53,9 57,6

5 48,4 50,6 53,2 56,4 61,0

6 50,1 52,4 55,2 59,0 64,4

7 51,8 54,3 57,2 61,5 67,8

8 53,5 56,1 59,3 64,1 71,2

9 55,3 58,0 61,3 66,6 74,6

10 57,0 59,8 63,3 69,2 78,0

11 58,7 61,7 65,4 71,7 81,4

12 60,5 63,5 67,4 74,3 84,8

13 62,2 65,4 69,5 76,8 88,2

14 63,9 67,2 71,5 79,4 91,6

15 65,6 69,1 73,5 81,9 95,0

16 67,4 70,9 75,6 84,5 98,4

17 69,1 72,8 77,6 87,0 101,8

18 70,8 74,6 79,6 89,6 105,2

Fernandéz (2004)

Quadro 5. Valores normativos para circunferência de

cintura (meninas).

Idade

(anos) P10 P25 P50 P75 P90

2 43,8 45,0 47,1 49,5 52,2

3 45,4 46,7 49,1 51,9 55,3

4 46,9 48,4 51,1 54,3 58,3

5 48,5 50,1 53,0 56,7 61,4

6 50,1 51,8 55,0 59,1 64,4

7 51,6 53,5 56,9 61,5 67,5

8 53,2 55,2 58,9 63,9 70,5

9 54,8 56,9 60,8 66,3 73,6

10 56,3 58,6 62,8 68,7 76,6

11 57,9 60,3 64,8 71,1 79,7

12 59,5 62,0 66,7 73,5 82,7

13 61,0 63,7 68,7 75,9 85,8

14 62,6 65,4 70,6 78,3 88,8

15 64,2 67,1 72,6 80,7 91,9

16 65,7 68,8 74,6 83,1 94,9

17 67,3 70,5 76,5 85,5 98,0

18 68,9 72,2 78,5 87,9 101,0

Ficha antropométrica na escola: o que medir e para que medir? 113

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A implantação de uma sistemática avaliação

antropométrica na escola é de fundamental

importância, pois possibilita o acompanhamento

do crescimento e a detecção precoce de possíveis

fatores de risco para o desenvolvimento de doenças,

que atualmente tem início em idades cada vez mais

precoces.

Apesar dos contrastes regionais observados

no Brasil, acredita-se que o comprometimento dos

profissionais de educação física e o apoio pedagógico

da escola serão fatores determinantes para o sucesso

da implantação FAE.

A utilização da FAE torna-se efetiva no momento

em que além de oportunizar um acompanhamento

da evolução do crescimento e monitoramento da

desnutrição e/ou da obesidade dos alunos, possibilita

a realização de um trabalho interdisciplinar na escola,

enfatizando a importância de um estilo de vida ativo

para a melhoria da qualidade de vida.

Recomenda-se a realização das medidas

antropométricas ao início e ao final do ano letivo, para

que se possa traçar a evolução anual dos alunos, mas

jamais utilizar os dados para atribuição de notas ou

conceitos.

O relatório dos resultados para a família do

escolar, também se constitui de um passo importante.

O mesmo poderá ser por escrito e entregue ao próprio

aluno, ou conforme a necessidade, também em

conversa com os pais. Caso a escola possua uma

página na internet cada aluno poderá receber uma

senha e ter acesso aos seus resultados.

Cabe salientar, que as informações coletadas

pelos profissionais de educação física não tem

como objetivo apenas diagnosticar distúrbios de

crescimento. Estas servem também como um

indicador para identificação de fatores ambientais, que

possivelmente, possam induzir ou estar induzindo a

alguma disfunção relativa à saúde26.

Por fim, acredita-se que a garantia do êxito desta

proposta depende da sua inclusão como conteúdo

da educação física escolar, contemplada no Projeto

Político Pedagógico (PPP) da escola.

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avaliação em educação física. 1 ed. São Paulo:

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Endereço para correspondência

Carmem Cristina Beck Recebido em 29/09/06

Rua Jair Silva, 50. Apto 404, Centro Revisado em 11/11/06

CEP 88020-715 Florianópolis, SC - Brasil Aprovado em 15/12/06

E-mail: carmembeck@hotmail.com
 
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Abraços,
Profº Mauro Mota

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